Há pouco tempo entrei numa livraria para procurar um livro.*
Enquanto eu examinava a profusão de cores ao meu redor e me lembrava que, em relação às livrarias do mundo real atual, a minha imagem mental de uma livraria, formada na minha infância, parece mais uma caverna filmada em preto e branco (ou black and white, como diria o miguel filho do jack), a moça vem e me pergunta se pode me ajudar. Respondo que procuro determinado livro, ao que ela me diz: ah, é aquele de auto-ajuda, né?
Aquela colocação me provocou uma profunda reflexão de um nanosegundo - alguma coisa estava fora da ordem. Pois veja, se se considerar que aquele livro pode, de alguma forma, ajudar alguém, como dizer que se trata de auto-ajuda, se não fui eu quem o escreveu? O bom samaritano ou é o autor ou, pra ser bem gnóstico, o próprio livro. Eu? Não.
Fora que, se aquele livro, ou qualquer outro, é de auto-ajuda, qual não será?
Saí de lá intrigado. Passei num sebo e comprei o livro.
*Não...
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Vazio
Quando o homem entrou pela porta, nada passava em sua cabeça. Não lembrava mais do cachorro de sua infância, nem de quando as ruas eram de terra, ou do quanto era feliz ontem, nem do quanto é infeliz hoje. Não pensava que seria ótimo comer um prato de mexido de banana com queijo, nem lembrava do quanto gostava de tomar um vinho.
Mulher, não lembrava nem que existia, quanto menos do cheiro que traz entre as pernas ou o gosto dos peitos.
A raiva pela dinâmica das relações (im)pessoais do mundo, o amor pela família, a compaixão pelos animais - nada.
Todo o seu ser, e também seu não ser, tudo tomado por uma angústia sem fim, nem começo, nem limites, que ao mesmo tempo lhe sufocava completamente e lhe trazia a urgência de correr como Forrest Gump.
De todas as lembranças ausentes, talvez a principal fosse o momento exato em que se perdeu, em que as coisas deixaram de estar tudo bem para se tornarem um tormento sem fim.
Olhou muito tempo pela janela, e não entendia como tudo lá fora era tão bonito, e como tudo dentro era tão hostil.
Então lembrou de Deus, ou das pessoas lhe falando sobre Deus, e pensou como é que podiam existir tantos deuses no mundo, um para cada ser consciente da Terra. E se questionou se o seu Deus poderia lhe indicar a saída. Porque ao contrário de várias pessoas que conhecia, não acreditava muito que depois de ter ganhado a vida, um corpo (quase) perfeito, inteligência, sensibilidade, uma ótima infância, poderia ainda pedir alguma coisa. A existência já não é o maior presente?
Antes que chegasse a alguma conclusão, sua atenção foi captada pelo não-vôo de um beija flor azulado com a cara enfiada numa flor de ipê. E, mais uma vez, esqueceu de si. E berrou, com força igual a imensa dor que sentia, tão alto que ninguém ouviu. Ninguém nunca ouviu aquele berro, como todos os outros anteriores. E se encolheu, querendo dormir, talvez. E dormiu, desejando nunca mais acordar.
Mulher, não lembrava nem que existia, quanto menos do cheiro que traz entre as pernas ou o gosto dos peitos.
A raiva pela dinâmica das relações (im)pessoais do mundo, o amor pela família, a compaixão pelos animais - nada.
Todo o seu ser, e também seu não ser, tudo tomado por uma angústia sem fim, nem começo, nem limites, que ao mesmo tempo lhe sufocava completamente e lhe trazia a urgência de correr como Forrest Gump.
De todas as lembranças ausentes, talvez a principal fosse o momento exato em que se perdeu, em que as coisas deixaram de estar tudo bem para se tornarem um tormento sem fim.
Olhou muito tempo pela janela, e não entendia como tudo lá fora era tão bonito, e como tudo dentro era tão hostil.
Então lembrou de Deus, ou das pessoas lhe falando sobre Deus, e pensou como é que podiam existir tantos deuses no mundo, um para cada ser consciente da Terra. E se questionou se o seu Deus poderia lhe indicar a saída. Porque ao contrário de várias pessoas que conhecia, não acreditava muito que depois de ter ganhado a vida, um corpo (quase) perfeito, inteligência, sensibilidade, uma ótima infância, poderia ainda pedir alguma coisa. A existência já não é o maior presente?
Antes que chegasse a alguma conclusão, sua atenção foi captada pelo não-vôo de um beija flor azulado com a cara enfiada numa flor de ipê. E, mais uma vez, esqueceu de si. E berrou, com força igual a imensa dor que sentia, tão alto que ninguém ouviu. Ninguém nunca ouviu aquele berro, como todos os outros anteriores. E se encolheu, querendo dormir, talvez. E dormiu, desejando nunca mais acordar.
sábado, 3 de outubro de 2009
Me diz: porque o céu é azul?
O menino tinha uma coleção de pupas. Pupa é a fase da vida da borboleta em que ela não é nem lagarta, nem borboleta. Ela só é. Casulo não é conteúdo, é continente.
Pegava um pedaço de linha dez e ia prendendo a hastesinha das pupas com um nó-de-correr, e deixava pendurado o varal de metamorfoses em cima do tanque.
Era fascinante ver aquela lagarta em preto e amarelo, parando de cabeça para baixo de uma hora p/ outra, dependurando-se com a bunda, fazendo um abdominal e ir tecendo com as mil pernas aquele casulo verde com dourado.
Nessa hora dava p/ colher as pupas, e pendurar no varal. Depois, elas iam escurecendo, ficando azuladas, acinzentadas, até que dava pra ver a borboleta apertadinha lá dentro, a casca da pupa já totalmente transparente.
Então a borboleta sai, e abre as asas. Fica abrindo e fechando as asas para secar e endurecer, e depois de quase um dia desse jeito, sai voando. Qualquer treta na hora de sair, faz a asa enrolar em si mesma e aí já era.
Como era mágico assistir a uma metamorfose. Ele se certificou que não sobrava nada mesmo, abrindo com estilete as pupas em diversas fases, e viu que só o que havia era um líquido fedorento.
No futuro, ele iria pensar que as crianças têm que aproveitar a facilidade natural de enxergar milagres, senão o adulto nunca vai conseguir ver nada que importe de verdade.
Saberia ele que o poder do Sol causa menos impacto que a versão nova do iPhone. Que a água evaporando, depois caindo, depois refletindo um arco íris, passa despercebido perto da marca da Red Bull ou dos móveis padronizados da Toc Stok. Que o vôo dos aviões é mais admirado que o dos pássaros, e que a beleza da TV de plasma chama mais a atenção que os próprios fundamentos da existência da eletricidade, das ondas de rádio e do campo eletromagnético, que ninguém inventou, mas que move tudo que foi inventado.
Saberia ele que o grande milagre da vida é o despertar para o fato de que tudo na vida é um milagre.
Pegava um pedaço de linha dez e ia prendendo a hastesinha das pupas com um nó-de-correr, e deixava pendurado o varal de metamorfoses em cima do tanque.
Era fascinante ver aquela lagarta em preto e amarelo, parando de cabeça para baixo de uma hora p/ outra, dependurando-se com a bunda, fazendo um abdominal e ir tecendo com as mil pernas aquele casulo verde com dourado.
Nessa hora dava p/ colher as pupas, e pendurar no varal. Depois, elas iam escurecendo, ficando azuladas, acinzentadas, até que dava pra ver a borboleta apertadinha lá dentro, a casca da pupa já totalmente transparente.
Então a borboleta sai, e abre as asas. Fica abrindo e fechando as asas para secar e endurecer, e depois de quase um dia desse jeito, sai voando. Qualquer treta na hora de sair, faz a asa enrolar em si mesma e aí já era.
Como era mágico assistir a uma metamorfose. Ele se certificou que não sobrava nada mesmo, abrindo com estilete as pupas em diversas fases, e viu que só o que havia era um líquido fedorento.
No futuro, ele iria pensar que as crianças têm que aproveitar a facilidade natural de enxergar milagres, senão o adulto nunca vai conseguir ver nada que importe de verdade.
Saberia ele que o poder do Sol causa menos impacto que a versão nova do iPhone. Que a água evaporando, depois caindo, depois refletindo um arco íris, passa despercebido perto da marca da Red Bull ou dos móveis padronizados da Toc Stok. Que o vôo dos aviões é mais admirado que o dos pássaros, e que a beleza da TV de plasma chama mais a atenção que os próprios fundamentos da existência da eletricidade, das ondas de rádio e do campo eletromagnético, que ninguém inventou, mas que move tudo que foi inventado.
Saberia ele que o grande milagre da vida é o despertar para o fato de que tudo na vida é um milagre.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Orgia
Na vida de um homem, passam alguns homens. Um cara tem várias histórias com outros caras, afinal de contas esse lance que mistura afinidade sem motivo com algumas outras coisas, e que foi denominado amizade, é um vínculo muito forte, talvez o mais forte dentre os vínculos voluntários. Acho que só o fato de ter a capacidade de ignorar vários preconceitos, inignoráveis por outros tipos de relação, já mostra sua força.
Passam, entretanto, muito mais mulheres que homens na vida de um cara.
O porquê disso, acho que cada um tem o seu. Mas as meninas estão aí, por todos os lados, te olhando com todo o tipo de olhar que existe.
O lance é que os sentimentos pelas outras pessoas não são estanques e nem exclusivos, de forma que as relações misturam características de vários deles, e talvez a gente identifique qual é apenas pelo trejeito preponderante (que também é mutante), ignorando o resto.
Eu diria que até mesmo as sensações são assim, o que possibilita a alteração da percepção do mundo pelos sentidos, como se a realidade, incluindo as relações humanas, fossem na verdade uma faixa de frequência.
Por isso gosto de gente que consegue oscilar um pouco a sintonia - dá para vibrar um pouco usando a antena alheia (num sentido totalmente não-sexual), para abordar a realidade com outra atitude, aprofundando um pouco mais o contato direto com o mundo, que ao mesmo tempo é o contato direto consigo próprio.
E fazer isso com uma menina, aí é que é legal. O que ela capta é muito diferente do que capto eu. Acho que um brasileiro é mais parecido com um bielorusso do que com uma brasileira, então dá pra aprender a falar até esperanto.
Passam, entretanto, muito mais mulheres que homens na vida de um cara.
O porquê disso, acho que cada um tem o seu. Mas as meninas estão aí, por todos os lados, te olhando com todo o tipo de olhar que existe.
O lance é que os sentimentos pelas outras pessoas não são estanques e nem exclusivos, de forma que as relações misturam características de vários deles, e talvez a gente identifique qual é apenas pelo trejeito preponderante (que também é mutante), ignorando o resto.
Eu diria que até mesmo as sensações são assim, o que possibilita a alteração da percepção do mundo pelos sentidos, como se a realidade, incluindo as relações humanas, fossem na verdade uma faixa de frequência.
Por isso gosto de gente que consegue oscilar um pouco a sintonia - dá para vibrar um pouco usando a antena alheia (num sentido totalmente não-sexual), para abordar a realidade com outra atitude, aprofundando um pouco mais o contato direto com o mundo, que ao mesmo tempo é o contato direto consigo próprio.
E fazer isso com uma menina, aí é que é legal. O que ela capta é muito diferente do que capto eu. Acho que um brasileiro é mais parecido com um bielorusso do que com uma brasileira, então dá pra aprender a falar até esperanto.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Corrosão
Coisa difícil de aceitar é que os nossos erros não anulam nossos acertos. A imperfeição não invalida as virtudes que se tem.
Pra conseguir ser livre de verdade, é preciso perdoar. Mas tem que ser tudo e todos. E o perdão mais difícil é o concedido a si próprio.
Eu acho impossível alguém conseguir dar o que não tem, então só quem conseguiu o auto-perdão é que pode ser capaz de perdoar outras pessoas.
Acho que o auto-perdão é a pedra fundamental para a libertação da culpa, e a libertação da culpa te dá asas.
Pra conseguir ser livre de verdade, é preciso perdoar. Mas tem que ser tudo e todos. E o perdão mais difícil é o concedido a si próprio.
Eu acho impossível alguém conseguir dar o que não tem, então só quem conseguiu o auto-perdão é que pode ser capaz de perdoar outras pessoas.
Acho que o auto-perdão é a pedra fundamental para a libertação da culpa, e a libertação da culpa te dá asas.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Alma
Ela virou pra mim e falou que eu era mais corajoso, entrando consciente naquela onda. Na hora, pensei que isso não tinha nada de coragem, mas de natureza, de falta de opção mesmo. Vai ou vai - o outro jeito é negar o próprio destino, tentar controlar o suceder das coisas.
E não dá mesmo não, porque o fato de saber que você vai ganhar de presente uma dose bem servida de intranquilidade de alma é também de uma atração e fascínio irressistíveis, como luz para mariposa.
Ninguém com alguma coisa correndo quente nas veias vai jogar fora uma oportunidade de ter o sossego um pouco perturbado por aquela brisa típica, mais ou menos como a brisa etérea que envolve São Tomé das Letras e que a gente sente com todos os sentidos.
É como nunca mais sentir o vento na cara e no cabelo por preguiça de correr.
As alterações na percepção do mundo sempre trazem conhecimento, sempre são proveitosas, colocando tudo em perspectiva. Se a impermanência é a lei que rege o universo, então a criatividade e liberdade de abordagem das questões são caminhos de crescimento pessoal e transpessoal, e isso traz poder.
Nenhum tipo ou tamanho de paixão foi feita para ser abortada, como diz meu camarada Lanolina. Paixão foi feita pra ser vivida, pra consumir e ser consumida.
Pra te dar consciência da fragilidade da forma, da efemeridade das coisas manifestadas.
E ainda tem a vantagem de ser um trem totalmente egoísta, sem culpa nem remorso, de forma que não tem muito conflito não - a paixão sabe muito bem o que quer e não em escrúpulos, e te impulsiona a realizá-la. Quando a casa cai, a paixão já foi embora, ilesa, mas as consequências permancem.
Vai falar que você acha ruim?
E não dá mesmo não, porque o fato de saber que você vai ganhar de presente uma dose bem servida de intranquilidade de alma é também de uma atração e fascínio irressistíveis, como luz para mariposa.
Ninguém com alguma coisa correndo quente nas veias vai jogar fora uma oportunidade de ter o sossego um pouco perturbado por aquela brisa típica, mais ou menos como a brisa etérea que envolve São Tomé das Letras e que a gente sente com todos os sentidos.
É como nunca mais sentir o vento na cara e no cabelo por preguiça de correr.
As alterações na percepção do mundo sempre trazem conhecimento, sempre são proveitosas, colocando tudo em perspectiva. Se a impermanência é a lei que rege o universo, então a criatividade e liberdade de abordagem das questões são caminhos de crescimento pessoal e transpessoal, e isso traz poder.
Nenhum tipo ou tamanho de paixão foi feita para ser abortada, como diz meu camarada Lanolina. Paixão foi feita pra ser vivida, pra consumir e ser consumida.
Pra te dar consciência da fragilidade da forma, da efemeridade das coisas manifestadas.
E ainda tem a vantagem de ser um trem totalmente egoísta, sem culpa nem remorso, de forma que não tem muito conflito não - a paixão sabe muito bem o que quer e não em escrúpulos, e te impulsiona a realizá-la. Quando a casa cai, a paixão já foi embora, ilesa, mas as consequências permancem.
Vai falar que você acha ruim?
GO GET IT
Tenho preguiça de quem critica a cultura do povo dos Estados Unidos. De gente cool então, que diz que a cultura européia é mais... cool... Não que eu conheça um ou outro lugar. Não, ainda não tive esse prazer.
De qualquer forma, uma das coisas que dizem sobre os americanos lá de cima, é que o cinema deles é muito ruim. Não se assuste, estou novamente falando dos cools, que não podem gostar de norteamericano. Se tiver começo, meio e fim, é palha. É careta. É burro. Mas o que eu quero falar mesmo é que seus filmes são criticados porque supostamente são muito violentos e influenciam negativamente as criancinhas inocentes. Acho que acham que as criancinhas batem nos mais fracos, pegam cachorrinho pelo pescoço e gatinho pelo rabo por causa dos filmes. E dos video games violentos, tipo aquele que você é um fela, que rouba carro e mata os outros, o GTA. Pra mim, e pra todo mundo com um mínimo de discernimento, isso é uma besteira. Se não fosse, quem espancaria os outros na rua seriam os nerds, não os playboys que nem conseguem ver filme legendado ou entender o que fazer num video game.
Mas eu, por minha vez, fui muito influenciado pelos ianques (seja lá o que signifique isso). Principalmente com relação aos heróis, e especialmente com relação ao amor. Com os filmes americanos, aprendi que existe amor incondicional entre homem e mulher, e que existem homens com convicções inabaláveis, ainda que vacilem aqui ou ali. Sou fã do Clint Eastwood, sabe? Meu pai foi bem clint eastwood, incorruptível, corajoso, durão por fora, coração mole por dentro.
E eu entrei na onda. Achei que legal era ser assim, rebelde, mas mais honesto e humilde que os conformes. Mel Gibson, Charles Bronson. Van Dame. Stallone. E esse é o meu erro. Aprendi a ver o mundo pela perspectiva holywoodiana, acreditando que tudo acaba bem, e que algumas coisas não acabam. Que existe outra metade. Que seu coração vai te dizer quando ela aparecer, e que tudo vai ser mais importante. Que os dois não vão querer saber de dinheiro, só amar, igual ao Tim Maia.
Ria. Pode rir mesmo. Sei que sou mané. Sei que o filme europeu tem razão. As pessoas atam laços entre si com nós cegos e cordas de conveniência. O pai come a mulher do filho, se ela for gostosa e der moral, e ela dá moral, se ele for interessante, tipo o Jeremy Irons e a Juliane Binoche. Eles se arrependem depois, e não adianta. O cara morre do mesmo jeito. Acho que isso é o retrato mesmo da diferença entre as culturas (lá vou dar palpite de novo sobre o que não conheço. Mas eu penso, logo, conjecturo). O americano enxerga o mundo assim porque tem esperança e fé inabalável. O velho mundo já tá velho, e já perdeu as ilusões com a humanidade. Tudo o ser humano é normal, desde que seja escroto. Tipo o Marlon Brando passando manteiga na bunda da mulher no apartamento vazio.
Eu sei é que o ser humano é movido a esperança, e o que a prejudica não deve ser bom não. Tem que fazer igual os EUA e acreditar que se merece tudo o que se quer.
De qualquer forma, uma das coisas que dizem sobre os americanos lá de cima, é que o cinema deles é muito ruim. Não se assuste, estou novamente falando dos cools, que não podem gostar de norteamericano. Se tiver começo, meio e fim, é palha. É careta. É burro. Mas o que eu quero falar mesmo é que seus filmes são criticados porque supostamente são muito violentos e influenciam negativamente as criancinhas inocentes. Acho que acham que as criancinhas batem nos mais fracos, pegam cachorrinho pelo pescoço e gatinho pelo rabo por causa dos filmes. E dos video games violentos, tipo aquele que você é um fela, que rouba carro e mata os outros, o GTA. Pra mim, e pra todo mundo com um mínimo de discernimento, isso é uma besteira. Se não fosse, quem espancaria os outros na rua seriam os nerds, não os playboys que nem conseguem ver filme legendado ou entender o que fazer num video game.
Mas eu, por minha vez, fui muito influenciado pelos ianques (seja lá o que signifique isso). Principalmente com relação aos heróis, e especialmente com relação ao amor. Com os filmes americanos, aprendi que existe amor incondicional entre homem e mulher, e que existem homens com convicções inabaláveis, ainda que vacilem aqui ou ali. Sou fã do Clint Eastwood, sabe? Meu pai foi bem clint eastwood, incorruptível, corajoso, durão por fora, coração mole por dentro.
E eu entrei na onda. Achei que legal era ser assim, rebelde, mas mais honesto e humilde que os conformes. Mel Gibson, Charles Bronson. Van Dame. Stallone. E esse é o meu erro. Aprendi a ver o mundo pela perspectiva holywoodiana, acreditando que tudo acaba bem, e que algumas coisas não acabam. Que existe outra metade. Que seu coração vai te dizer quando ela aparecer, e que tudo vai ser mais importante. Que os dois não vão querer saber de dinheiro, só amar, igual ao Tim Maia.
Ria. Pode rir mesmo. Sei que sou mané. Sei que o filme europeu tem razão. As pessoas atam laços entre si com nós cegos e cordas de conveniência. O pai come a mulher do filho, se ela for gostosa e der moral, e ela dá moral, se ele for interessante, tipo o Jeremy Irons e a Juliane Binoche. Eles se arrependem depois, e não adianta. O cara morre do mesmo jeito. Acho que isso é o retrato mesmo da diferença entre as culturas (lá vou dar palpite de novo sobre o que não conheço. Mas eu penso, logo, conjecturo). O americano enxerga o mundo assim porque tem esperança e fé inabalável. O velho mundo já tá velho, e já perdeu as ilusões com a humanidade. Tudo o ser humano é normal, desde que seja escroto. Tipo o Marlon Brando passando manteiga na bunda da mulher no apartamento vazio.
Eu sei é que o ser humano é movido a esperança, e o que a prejudica não deve ser bom não. Tem que fazer igual os EUA e acreditar que se merece tudo o que se quer.
GENTE
A gente perde o tesão. Vai embora, junto com a coisa que o sustente - admiração, gosto da novidade, amor, amizade...
Amor também vai embora. Se precisar, vai até à força. Se for o caso, claro, porque eu acredito que haja amores e amores. Uns são macho mesmo - permanecem sob qualquer intempérie.
Agora, amizade a gente não perde, de jeito nenhum. Amizade fica lá. Se alguém perde uma amizade, na verdade não perdeu nada. A não-decadência é característica inerente à amizade. Se o negócio é prescritível, então nunca foi amizade.
Aa relações têm vida própria, cada uma escorre de acordo com a sua viscosidade na parede da taça pela metade. A mistura pode transformar chumbo em ouro, ou não. Portanto, as mesmas situações que enriquecem e incrementam uma relação podem acabar com outra, por conta dessas idiossincrasias.
Quem irá dizer quais dos envolvidos são beneficiados em cada uma das hipóteses?
E quem puder dizer isso, aproveita a visita e me explica o que é o amor, a amizade e o tesão, por gentileza.
Amor também vai embora. Se precisar, vai até à força. Se for o caso, claro, porque eu acredito que haja amores e amores. Uns são macho mesmo - permanecem sob qualquer intempérie.
Agora, amizade a gente não perde, de jeito nenhum. Amizade fica lá. Se alguém perde uma amizade, na verdade não perdeu nada. A não-decadência é característica inerente à amizade. Se o negócio é prescritível, então nunca foi amizade.
Aa relações têm vida própria, cada uma escorre de acordo com a sua viscosidade na parede da taça pela metade. A mistura pode transformar chumbo em ouro, ou não. Portanto, as mesmas situações que enriquecem e incrementam uma relação podem acabar com outra, por conta dessas idiossincrasias.
Quem irá dizer quais dos envolvidos são beneficiados em cada uma das hipóteses?
E quem puder dizer isso, aproveita a visita e me explica o que é o amor, a amizade e o tesão, por gentileza.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Minha culpa
Não sei pra quê serve a culpa. Porquê ela tem que servir pra alguma coisa. A minha é grande e dolorida. E antiga.
E o pior é que as coisas que me dão prazer são as que me lembram do mal que eu fiz.
Quando criança, fiz mal a muitos animais. Matei muitos insetos à toa, matei muitos passarinhos, lindos, indefesos, inocentes, por diversão. Maltratei e machuquei muitos gatos e outros bichos, talvez com exceção de cachorros, dos quais sempre fui amigo.
E o que recebo em troca? Bem, os pássaros continuam a embelezar o meu mundo, cantando, voando, me fazendo esquecer das minhas tristezas, fora essa culpa. Os animais continuam sendo meus amigos em sua inocência, geralmente me permitem o contato físico, o olhar direto, os cães continuam me permitindo ter a sensação gratificante do toque de seus focinhos, das arranhadas de suas patas, do som de seus latidos e choros.
E tenho certeza de que, quando eu morrer, virão me socorrer o Toquinho, o Buck, o Xamã, o Thor, o Ozzy, o Pepper, e, quem sabe, também virão me saudar as andorinhas que eu matei, talvez até auxiliando a minha defesa frente ao Criador, me ensinando o perdão.
Do fundo do meu coração, peço perdão a todos vocês, animaizinhos covardemente machucados e mortos por mim, e peço perdão à Fonte de tudo, que jamais me autorizou a qualquer atitude nefasta como essas. Sei que não foi pra isso que eu nasci, não foi pra isso que fui presenteado com meu corpo em bom funcionamento, minha inteligência, minha boa mira. Se eu pudesse voltar atrás, nunca repetiria esses erros. Mas não posso...
E muito obrigado ao chefe Paulo, chefe Roberto e outros responsáveis por acordarem minha consciência quanto à reverência e respeito devidos à natureza, através dos ensinamentos do escotismo. Vocês me tiraram desse caminho torto de desrespeito às plantas e aos animais, me fizeram perceber que eles são meus irmãos mais novos, que devem ser protegidos e amados, e isso tem um valor inestimável.
E o pior é que as coisas que me dão prazer são as que me lembram do mal que eu fiz.
Quando criança, fiz mal a muitos animais. Matei muitos insetos à toa, matei muitos passarinhos, lindos, indefesos, inocentes, por diversão. Maltratei e machuquei muitos gatos e outros bichos, talvez com exceção de cachorros, dos quais sempre fui amigo.
E o que recebo em troca? Bem, os pássaros continuam a embelezar o meu mundo, cantando, voando, me fazendo esquecer das minhas tristezas, fora essa culpa. Os animais continuam sendo meus amigos em sua inocência, geralmente me permitem o contato físico, o olhar direto, os cães continuam me permitindo ter a sensação gratificante do toque de seus focinhos, das arranhadas de suas patas, do som de seus latidos e choros.
E tenho certeza de que, quando eu morrer, virão me socorrer o Toquinho, o Buck, o Xamã, o Thor, o Ozzy, o Pepper, e, quem sabe, também virão me saudar as andorinhas que eu matei, talvez até auxiliando a minha defesa frente ao Criador, me ensinando o perdão.
Do fundo do meu coração, peço perdão a todos vocês, animaizinhos covardemente machucados e mortos por mim, e peço perdão à Fonte de tudo, que jamais me autorizou a qualquer atitude nefasta como essas. Sei que não foi pra isso que eu nasci, não foi pra isso que fui presenteado com meu corpo em bom funcionamento, minha inteligência, minha boa mira. Se eu pudesse voltar atrás, nunca repetiria esses erros. Mas não posso...
E muito obrigado ao chefe Paulo, chefe Roberto e outros responsáveis por acordarem minha consciência quanto à reverência e respeito devidos à natureza, através dos ensinamentos do escotismo. Vocês me tiraram desse caminho torto de desrespeito às plantas e aos animais, me fizeram perceber que eles são meus irmãos mais novos, que devem ser protegidos e amados, e isso tem um valor inestimável.
quinta-feira, 26 de março de 2009
Eu acho que Master Blaster poderia ter sido composta pelo Itamar Assumpção tranquilamente.
Acho também que as coisas dentro de mim não cabem nesse corpo. Um e oitenta e seis tá pouco. Posso dizer que tenho problemas de coração, fora o prolapso da válvula mitral (com o qual morrerei, mas não pelo qual, segunda a médica). Meu amor é cumulativo. Ou melhor, meus sentimentos são cumulativos, e absolutamente não excludentes, ainda que incompatíveis, e indiscriminatórios.
Quer dizer, minha vida é uma bola de neve, crescendo morro abaixo. E a ladeira é cada vez mais íngrime.
Um dia alcanço a beira do precipício.
Acho também que as coisas dentro de mim não cabem nesse corpo. Um e oitenta e seis tá pouco. Posso dizer que tenho problemas de coração, fora o prolapso da válvula mitral (com o qual morrerei, mas não pelo qual, segunda a médica). Meu amor é cumulativo. Ou melhor, meus sentimentos são cumulativos, e absolutamente não excludentes, ainda que incompatíveis, e indiscriminatórios.
Quer dizer, minha vida é uma bola de neve, crescendo morro abaixo. E a ladeira é cada vez mais íngrime.
Um dia alcanço a beira do precipício.
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Gladiador
Descobri que a grande maioria das preocupações são inúteis, que perco tempo com coisas sem valor, sem sentido, sem nenhuma importância.
Descobri que a minha relação com todas as pessoas do mundo é a minha relação comigo mesmo, com meu próprio ser.
Daí porque a maior besteira de todas, a maior e mais perigosa de todas as piadas, é a guerra. A guerra é um estado constante entre as pessoas, e sendo assim, é um estado interior incessante. Querer aniquilar outra pessoa é a busca pela auto aniquilação. Cada soco proferido atinge o próprio estômago.
A nefasta ironia é que basta um gesto seu para que tudo isso acabe, para que todas as desavenças sejam dissolvidas. Basta ceder. Só isso. No trânsito, é dar preferência a quem não tem. Na briga, dar razão a quem estiver errado. Na rua, sorrir para quem te insulte, pergunte qual foi seu erro, olhar com verdade nos olhos de quem queira te ofender. Ser inocente. Encarar as pessoas de peito aberto, e não de punho fechado. Entenda que quando um não quer, ninguém briga. Dizer a verdade a quem mente, revidar o tapa na cara com um abraço. Buscar sempre a alteridade, e nela, a compaixão. Muito mais importante que a vitória, é a paz.
Internalizar a consciência de que forte é quem age como quer, e não quem reage como os outros querem; é dominar a si mesmo, e não ser dominado pelo lobo carniceiro que governa o outro.
Sirva a Vênus, não a Marte.
No fim das contas, ceder ao outro é dar espaço para o seu próprio Ser, e aceitar o outro é aceitar a si mesmo.
A escuridão não pode ser vencida com mais escuridão, só com a luz.
Ceder é muito mais fácil que perdoar, já que não existirá porrada a ser esquecida, por que ela nunca terá acontecido.
Vi que em algumas situações, talvez as mais importantes, o meu amado significado preciso das palavras tem serventia reduzida, porque vale mais a mágica que a gramática. As palavras são encantamentos, que são muito mais poderosos que o convencimento.
Posso pedir desculpas estando completamente consciente de que não as devo, o que não tem sentido, pelo olho da razão e da lógica. No entanto, posso estar consciente o bastante para usar o efeito que um pedido de desculpas geralmente tem, que é de dissolver conflito. Tinner de treta.
É igual com o perdão. Se você diz a alguém que o perdoa, mas não tem tanta certeza, o efeito mágico da palavra reverbera e acaba influenciando o próprio sentimento de perdão a aparecer. É como se a pronúncia da palavra invocasse determinado entidade, que você internaliza se estiver aberto. Do outro lado, mesma coisa, porque a pessoa vai ser afetada na mesma hora, e aos poucos vai se sentindo perdoada. E aí acaba a parada.
A conversa de que dar um boi pra não entrar numa briga e uma boiada pra não sair é o estandarte da ignorância. Aliás, a origem da palavra ignorância com certeza deve ser alguma coisa do tipo "sem luz", "sombrio", etc. O negócio tinha que ser dar uma boiada pra sair da briga e não entrar em outra nem ganhando outra manada.
Conseguir dominar o instinto agressivo não é fácil, é necessário estar sempre alerta, atento e forte. Forte pra se render. MIlhares de anos de guerra imprimem uma memória e condicionamentos profundos na gente, que não vai ser apagado de uma hora para outra.
Descobri que a minha relação com todas as pessoas do mundo é a minha relação comigo mesmo, com meu próprio ser.
Daí porque a maior besteira de todas, a maior e mais perigosa de todas as piadas, é a guerra. A guerra é um estado constante entre as pessoas, e sendo assim, é um estado interior incessante. Querer aniquilar outra pessoa é a busca pela auto aniquilação. Cada soco proferido atinge o próprio estômago.
A nefasta ironia é que basta um gesto seu para que tudo isso acabe, para que todas as desavenças sejam dissolvidas. Basta ceder. Só isso. No trânsito, é dar preferência a quem não tem. Na briga, dar razão a quem estiver errado. Na rua, sorrir para quem te insulte, pergunte qual foi seu erro, olhar com verdade nos olhos de quem queira te ofender. Ser inocente. Encarar as pessoas de peito aberto, e não de punho fechado. Entenda que quando um não quer, ninguém briga. Dizer a verdade a quem mente, revidar o tapa na cara com um abraço. Buscar sempre a alteridade, e nela, a compaixão. Muito mais importante que a vitória, é a paz.
Internalizar a consciência de que forte é quem age como quer, e não quem reage como os outros querem; é dominar a si mesmo, e não ser dominado pelo lobo carniceiro que governa o outro.
Sirva a Vênus, não a Marte.
No fim das contas, ceder ao outro é dar espaço para o seu próprio Ser, e aceitar o outro é aceitar a si mesmo.
A escuridão não pode ser vencida com mais escuridão, só com a luz.
Ceder é muito mais fácil que perdoar, já que não existirá porrada a ser esquecida, por que ela nunca terá acontecido.
Vi que em algumas situações, talvez as mais importantes, o meu amado significado preciso das palavras tem serventia reduzida, porque vale mais a mágica que a gramática. As palavras são encantamentos, que são muito mais poderosos que o convencimento.
Posso pedir desculpas estando completamente consciente de que não as devo, o que não tem sentido, pelo olho da razão e da lógica. No entanto, posso estar consciente o bastante para usar o efeito que um pedido de desculpas geralmente tem, que é de dissolver conflito. Tinner de treta.
É igual com o perdão. Se você diz a alguém que o perdoa, mas não tem tanta certeza, o efeito mágico da palavra reverbera e acaba influenciando o próprio sentimento de perdão a aparecer. É como se a pronúncia da palavra invocasse determinado entidade, que você internaliza se estiver aberto. Do outro lado, mesma coisa, porque a pessoa vai ser afetada na mesma hora, e aos poucos vai se sentindo perdoada. E aí acaba a parada.
A conversa de que dar um boi pra não entrar numa briga e uma boiada pra não sair é o estandarte da ignorância. Aliás, a origem da palavra ignorância com certeza deve ser alguma coisa do tipo "sem luz", "sombrio", etc. O negócio tinha que ser dar uma boiada pra sair da briga e não entrar em outra nem ganhando outra manada.
Conseguir dominar o instinto agressivo não é fácil, é necessário estar sempre alerta, atento e forte. Forte pra se render. MIlhares de anos de guerra imprimem uma memória e condicionamentos profundos na gente, que não vai ser apagado de uma hora para outra.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Quem vê, sabe
A medida de todas as coisas é a cara-de-pau.
A desmedida é a paixão.
A unidade de todas as coisas é o amor.
A desmedida é a paixão.
A unidade de todas as coisas é o amor.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
domingo, 11 de janeiro de 2009
Karma Police
Enquanto sorvo sozinho
mais uma garrafa de vinho
tenho aqui comigo
que se no universo houver justiça
cada garrafa bebida sozinho
me libera de um pouco de dívidas
e me ajuda no meu caminho
mais uma garrafa de vinho
tenho aqui comigo
que se no universo houver justiça
cada garrafa bebida sozinho
me libera de um pouco de dívidas
e me ajuda no meu caminho
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