Finalmente aprendi, então, que é muito melhor correr de viseira do que de boné, é muito mais leve, confortável e te permite sentir o vento não só na cara, mas também na cabeça. Parece que você não está usando nada, a não ser pela visão insistente da aba contra o céu.
Ganhei uma viseira cuja aba é azul, da cor do céu de Brasília de manhã. Agora nem vejo que estou com alguma coisa na cabeça, porque a aba, único lembrete, funde-se com o teto azul despojado de nuvens do inverno candango, como se fosse um camaleão montando minha cabeça.
Entretanto, mesmo sem eu perceber, aquela aba safada continua lá, escondendo tanto meu rosto do sol quanto qualquer coisa acima de mim dos meus olhos. Imagino quantos pássaros voando ou pousados nas copas das árvores deixei de admirar, na tentativa de evitar um câncer de pele na cara, sem sequer perceber que não os podia ver.
O fato é que qualquer outro obstáculo à minha visão plena do mundo poderia perfeitamente passar despercebido, por mais defasada que ficasse minha percepção.
Imagino-me o homem com aqueles antolhos na cabeça, feito cavalo. Se as palas que impedem a visão periférica tiverem a cor do senso comum, das suposições em que todo mundo acredita, ficaria invisível, camuflada.
E mais: se os antolhos fossem-me retirados, sairia eu em disparada, assustado com o que me era invisível, como um cavalo?
Viver à sombra da luz do universo, com medo do sol?
Viver à sombra da luz do universo, com medo do sol?
Um comentário:
esse texto é topo five do matuto, sem dúvida, bro.
coisas suas estão aí.
as sacadas profundas a partir da observação mais simples.
essa proposta de abstração, da aba, esclarece muita coisa.
taí o matuto, pesquisador, mel do melhor.
bebo o leite q vc tira da perda
da pedra
pq confio em vc paca´s
e vam simbora !
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