quarta-feira, 29 de julho de 2009

Alma

Ela virou pra mim e falou que eu era mais corajoso, entrando consciente naquela onda. Na hora, pensei que isso não tinha nada de coragem, mas de natureza, de falta de opção mesmo. Vai ou vai - o outro jeito é negar o próprio destino, tentar controlar o suceder das coisas.
E não dá mesmo não, porque o fato de saber que você vai ganhar de presente uma dose bem servida de intranquilidade de alma é também de uma atração e fascínio irressistíveis, como luz para mariposa.
Ninguém com alguma coisa correndo quente nas veias vai jogar fora uma oportunidade de ter o sossego um pouco perturbado por aquela brisa típica, mais ou menos como a brisa etérea que envolve São Tomé das Letras e que a gente sente com todos os sentidos.
É como nunca mais sentir o vento na cara e no cabelo por preguiça de correr.

As alterações na percepção do mundo sempre trazem conhecimento, sempre são proveitosas, colocando tudo em perspectiva. Se a impermanência é a lei que rege o universo, então a criatividade e liberdade de abordagem das questões são caminhos de crescimento pessoal e transpessoal, e isso traz poder.

Nenhum tipo ou tamanho de paixão foi feita para ser abortada, como diz meu camarada Lanolina. Paixão foi feita pra ser vivida, pra consumir e ser consumida.
Pra te dar consciência da fragilidade da forma, da efemeridade das coisas manifestadas.

E ainda tem a vantagem de ser um trem totalmente egoísta, sem culpa nem remorso, de forma que não tem muito conflito não - a paixão sabe muito bem o que quer e não em escrúpulos, e te impulsiona a realizá-la. Quando a casa cai, a paixão já foi embora, ilesa, mas as consequências permancem.

Vai falar que você acha ruim?

GO GET IT

Tenho preguiça de quem critica a cultura do povo dos Estados Unidos. De gente cool então, que diz que a cultura européia é mais... cool... Não que eu conheça um ou outro lugar. Não, ainda não tive esse prazer.

De qualquer forma, uma das coisas que dizem sobre os americanos lá de cima, é que o cinema deles é muito ruim. Não se assuste, estou novamente falando dos cools, que não podem gostar de norteamericano. Se tiver começo, meio e fim, é palha. É careta. É burro. Mas o que eu quero falar mesmo é que seus filmes são criticados porque supostamente são muito violentos e influenciam negativamente as criancinhas inocentes. Acho que acham que as criancinhas batem nos mais fracos, pegam cachorrinho pelo pescoço e gatinho pelo rabo por causa dos filmes. E dos video games violentos, tipo aquele que você é um fela, que rouba carro e mata os outros, o GTA. Pra mim, e pra todo mundo com um mínimo de discernimento, isso é uma besteira. Se não fosse, quem espancaria os outros na rua seriam os nerds, não os playboys que nem conseguem ver filme legendado ou entender o que fazer num video game.

Mas eu, por minha vez, fui muito influenciado pelos ianques (seja lá o que signifique isso). Principalmente com relação aos heróis, e especialmente com relação ao amor. Com os filmes americanos, aprendi que existe amor incondicional entre homem e mulher, e que existem homens com convicções inabaláveis, ainda que vacilem aqui ou ali. Sou fã do Clint Eastwood, sabe? Meu pai foi bem clint eastwood, incorruptível, corajoso, durão por fora, coração mole por dentro.

E eu entrei na onda. Achei que legal era ser assim, rebelde, mas mais honesto e humilde que os conformes. Mel Gibson, Charles Bronson. Van Dame. Stallone. E esse é o meu erro. Aprendi a ver o mundo pela perspectiva holywoodiana, acreditando que tudo acaba bem, e que algumas coisas não acabam. Que existe outra metade. Que seu coração vai te dizer quando ela aparecer, e que tudo vai ser mais importante. Que os dois não vão querer saber de dinheiro, só amar, igual ao Tim Maia.

Ria. Pode rir mesmo. Sei que sou mané. Sei que o filme europeu tem razão. As pessoas atam laços entre si com nós cegos e cordas de conveniência. O pai come a mulher do filho, se ela for gostosa e der moral, e ela dá moral, se ele for interessante, tipo o Jeremy Irons e a Juliane Binoche. Eles se arrependem depois, e não adianta. O cara morre do mesmo jeito. Acho que isso é o retrato mesmo da diferença entre as culturas (lá vou dar palpite de novo sobre o que não conheço. Mas eu penso, logo, conjecturo). O americano enxerga o mundo assim porque tem esperança e fé inabalável. O velho mundo já tá velho, e já perdeu as ilusões com a humanidade. Tudo o ser humano é normal, desde que seja escroto. Tipo o Marlon Brando passando manteiga na bunda da mulher no apartamento vazio.

Eu sei é que o ser humano é movido a esperança, e o que a prejudica não deve ser bom não. Tem que fazer igual os EUA e acreditar que se merece tudo o que se quer.

GENTE

A gente perde o tesão. Vai embora, junto com a coisa que o sustente - admiração, gosto da novidade, amor, amizade...

Amor também vai embora. Se precisar, vai até à força. Se for o caso, claro, porque eu acredito que haja amores e amores. Uns são macho mesmo - permanecem sob qualquer intempérie.

Agora, amizade a gente não perde, de jeito nenhum. Amizade fica lá. Se alguém perde uma amizade, na verdade não perdeu nada. A não-decadência é característica inerente à amizade. Se o negócio é prescritível, então nunca foi amizade.

Aa relações têm vida própria, cada uma escorre de acordo com a sua viscosidade na parede da taça pela metade. A mistura pode transformar chumbo em ouro, ou não. Portanto, as mesmas situações que enriquecem e incrementam uma relação podem acabar com outra, por conta dessas idiossincrasias.

Quem irá dizer quais dos envolvidos são beneficiados em cada uma das hipóteses?

E quem puder dizer isso, aproveita a visita e me explica o que é o amor, a amizade e o tesão, por gentileza.