quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Wherever I May Roam

Dizem os caras que o homem começou a andar com os lobos por conta das vantagens em se usar alguém para ajudar ou mesmo fazer nosso trabalho. Cada indivíduo ou comunidade selecionando deliberadamente as características que mais conviessem – caça, guarda, alarme, guia, ataque... – apropriando-se da acuidade dos sentidos caninos. Amansaram-se os bichos e eles viraram cachorros. Outros continuaram putos e ojerizados com a gente, permanecendo longe, selvagens, livres, cautos, lobos. Lobo mau.

Mas eu acho que o negócio é um pouco diferente. Eu acho que o homem e o cão começaram com essa promiscuidade por causa do prazer em andar no mato junto com o outro. Acho que nasceu da curiosidade, do cheiro de comida, e uma vez que o olhar de um homem cruzou com o do lobo andando ao lado, nasceu o vínculo. Um olhar encontra no outro o tipo de compreensão, positividade, segurança, que a sua própria espécie não conseguiria mostrar.

Talvez a nossa igualdade, que na vida comum parece não existir nem a pau, seja uma verdade. Uma verdade que pode ser muito pesada. A relação com um ser que é de outro tipo, outra consciência, e ainda assim com mesmo valor, talvez isso traga uma pouco de alívio. Alívio de ser gente. Alívio pela experiência de uma interação que exclui um intermediário: a linguagem. Transmissão com altíssima velocidade e fidelidade.

É bom ter amigo de todo jeito, everybody knows. Cada um faz entender um lado da gente.

E mais: pra ser poético, eu diria que os cachorros são os embaixadores dos animais no reino humano, tentando usar seu prestígio entre nós, quem sabe, pra mostrar que respeito é bom e conserva os dentes (nesse caso, todos os ossos do corpo e ainda a terra pra enterrá-los).

Acho que o homem percebeu, há muito tempo, que troca franca de olhar com um cachorro faz muito bem pra saúde. Do corpo e da alma, do cachorro e do homem.



4 comentários:

danislau disse...

isso � um tratado definitivo

nada mais a dizer

latir?

danislau disse...

cachorro, há qto tempo eu esperava por umas formulações suas sobre essa amizade inter-especial...

Anônimo disse...

Da "Enxurrada" pra cá, queria comentar tanto "trem" mas me foge um pouco ja que níveis tao elevados de estado deprimido unidos a musica clássica de Stravinsky que ouço agora, me tolhem a razão. Pelo menos valeu o título em homenagem ao Led, é isso mesmo??? E outra ne, Bill Gates, antecipou há cerca de 2 anos que o "futuro" sao os blogs e fotoblogs, entao tá valendo... a leitura dos seus textos é uma espécie de dejavu pra mim que sou tao leiga na vida... abracao...

Antonio Gil Gonçalves disse...

Exatamente e ainda digo que eles são a prova da lei universal e imutável Ação e Reação.....trate um cão com carinho e verá ...o Bandido lembra dele? ele era loco eu sei mas tenho certeza de que ele não era um simples animal assim como o Ozzy tbem ´não.